Ração Insuficiente Ameaça o Futuro da Indústria do Salmão
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Sob a superfície tranquila do mercado global de pescados, um risco financeiro significativo está crescendo silenciosamente — enraizado profundamente na cadeia de suprimentos da indústria. Não se trata da volatilidade climática nem de controvérsias sobre iniciativas ambientais, sociais e de governança (ESG). O problema está na frágil economia do que estamos oferecendo como alimento aos peixes criados em cativeiro.
Um novo relatório da FAIRR Initiative — uma rede global de investidores com US$ 80 trilhões sob gestão que avalia os riscos e oportunidades de em ESG na produção de proteínas — revela uma contradição crescente no centro da indústria global de criação de salmão. O setor se posiciona como sustentável, mas depende cada vez mais de um recurso natural escasso e finito — os peixes selvagens, que vivem livres em ambientes naturais como rios, lagos, oceanos e mares — para sua sobrevivência.
Divulgado antes da Conferência da ONU sobre os Oceanos de 2025, que acontece nos dias 9 a 13 de junho, em Nice, na França, o relatório é resultado de quatro anos de acompanhamento com sete das maiores produtoras de salmão de capital aberto do mundo — como as norueguesas Mowi ASA, SalMar ASA e Lerøy Seafood Group ASA — e traz um alerta: sem uma reforma urgente, a cadeia de suprimentos de ração pode colapsar sob o peso da própria expansão do setor.
Essas empresas representam 58% da produção global de salmão cultivado, com mais de 1,2 milhão de toneladas produzidas em 2023. A análise da FAIRR revela riscos ambientais, regulatórios e financeiros sistêmicos associados à dependência de peixes capturados na natureza, escancarando o abismo entre os discursos de sustentabilidade e a realidade operacional.
Recursos marinhos finitos
A dependência da indústria de farinha e óleo de peixe — ambos derivados de peixes selvagens — é uma vulnerabilidade crescente. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 90% das pescarias mundiais já estão sobre-exploradas ou operando no limite de sua capacidade.
Ainda assim, os produtores de salmão continuam a se apoiar fortemente nesses insumos pressionados para sustentar um aumento projetado de 40% na produção até 2033.
Em 2023, quando o Peru cancelou a temporada de pesca de anchovas, o preço do óleo de peixe disparou 107%. A Mowi, maior produtora de salmão do mundo, registrou um aumento de 70% nos custos de alimentação entre 2021 e 2023 devido a esse único evento.
Algumas empresas recorreram temporariamente ao uso de óleo de algas durante o pico de preços, mas voltaram atrás assim que as pescarias foram reabertas — evidenciando uma abordagem reativa que prioriza economias de curto prazo em detrimento da resiliência de longo prazo.
“Estamos apostando em um insumo finito para sustentar projeções de crescimento infinito”, afirmou Laure Boissat, gerente do Programa de Oceanos da FAIRR, em entrevista. “Isso não é resiliência — é uma receita para o colapso.”
Alimentando peixes com peixes
Entre 2020 e 2024, cinco das sete empresas analisadas pela FAIRR aumentaram o uso absoluto de farinha e óleo de peixe (FMFO) derivados de peixes selvagens inteiros em até 39%. Apesar dos compromissos com a sustentabilidade, apenas três reduziram a proporção de FMFO na ração, e nenhuma delas superou uma redução de três pontos percentuais.
Como resposta, muitas empresas passaram a utilizar aparas de peixe — subprodutos do processamento — como alternativa. Seis produtoras ampliaram seu uso, mas a oferta é, por natureza, limitada. Uma empresa relatou ter comprado todas as aparas disponíveis na região em que opera, levantando preocupações de que a crescente demanda possa incentivar a pesca adicional.
Isso expõe uma falha estrutural na narrativa de crescimento do setor. A produção de salmão cultivado deve crescer 40% até 2033, mas a produção de farinha e óleo de peixe deve aumentar apenas 9% e 12%, respectivamente, no mesmo período, segundo dados da ONU. Esses números são inconciliáveis.
Sem alternativas escaláveis ou uma mudança drástica na composição da ração, os planos de expansão da indústria parecem insustentáveis.
O relatório da FAIRR destaca que nenhuma das sete empresas avaliadas estabeleceu metas de redução absoluta para o uso de ingredientes de origem pesqueira, mesmo com cinco delas prevendo aumento na produção de salmão.
Essa desconexão expõe os investidores a riscos de longo prazo: se a oferta de ração não acompanhar o crescimento do setor, ou os custos vão disparar, ou as margens de lucro serão comprimidas, ou o impacto ambiental vai se agravar.
A ração do Salmão
A dependência de ração tem implicações mais amplas. Produtores de rações para aquicultura enfrentam aumento de custos e incerteza na oferta de matérias-primas. A indústria de alimentos para pets, que também depende de óleo de salmão e aparas, é igualmente vulnerável à volatilidade. À medida que a disponibilidade de peixes selvagens diminui, interrupções em uma parte da cadeia de suprimentos podem gerar impactos em outros setores, amplificando os riscos.
O desvio de peixes comestíveis para a produção de ração também levanta questões éticas. Mais de 90% dos peixes utilizados na produção de FMFO poderiam ser consumidos por pessoas.
O relatório Blue Empire, da Feedback, organização britânica dedicada a transformar o sistema alimentar e torná-lo mais sustentável, revelou que, em 2020, fazendas de salmão norueguesas utilizaram quase 2 milhões de toneladas de peixes selvagens na produção de ração, incluindo até 144 mil toneladas pescadas na costa da África Ocidental — o suficiente para alimentar entre 2,5 e 4 milhões de pessoas por um ano.
Ingredientes inovadores, como farinha de insetos, óleo de algas e proteínas unicelulares, já foram vistos como soluções transformadoras, mas o uso desses insumos ainda é limitado, com desafios como altos custos de produção, dificuldades de escala, limitações nutricionais e ceticismo dos consumidores.
Apenas três empresas estabeleceram metas para aumentar o uso desses componentes, que atualmente representam em média apenas 4% das fórmulas. Uma delas almeja chegar a 10–15% até 2030 — uma meta modesta diante da urgência do problema.
“Na prática, o setor está em ponto morto”, disse Boissat. “Não há um ingrediente milagroso à vista. O que estamos vendo é pensamento de curto prazo disfarçado de estratégia de longo prazo”, diz.
Investidores soam o alarme
O relatório da FAIRR quantifica um risco financeiro crescente. A volatilidade dos preços da ração — como demonstrado pelo caso do Peru — ameaça as margens de lucro em todo o setor. Nesse cenário, pode-se argumentar que a dependência da indústria do salmão por peixes selvagens é ambientalmente insustentável e economicamente imprudente.
“Como investidores, acreditamos que a aquicultura precisa migrar para soluções de ração sustentáveis. Diversificar os ingredientes da alimentação não é apenas uma exigência ambiental, mas uma necessidade estratégica para garantir resiliência no longo prazo”, afirmou Thekla Swart, do banco Steyler Ethik Bank, integrante da FAIRR, em nota à imprensa.
Os produtores de salmão costumam liderar o setor de proteínas em termos de transparência, mas a FAIRR alerta que isso, por si só, não basta. “As empresas divulgam métricas relativas, mas essas não refletem a pressão absoluta sobre os estoques pesqueiros”, explicou Boissat. “Esse é o abismo entre o que se reporta e a realidade — o sistema é insustentável, ainda que pareça progressista no papel.”
Encruzilhada nos oceanos
As recomendações da FAIRR são diretas. As empresas devem estabelecer metas absolutas de redução de FMFO e investir em ingredientes alternativos escaláveis — mas uma transformação mais profunda pode ser necessária.
Isso envolve migrar da criação de espécies carnívoras, como o salmão, para opções de aquicultura sem alimentação externa, como mexilhões e ostras.
A FAIRR também incentiva o desenvolvimento de frutos do mar à base de plantas, em linha com o movimento da indústria da carne em direção às proteínas alternativas.
“A aquicultura com alimentação é, por definição, ineficiente”, enfatizou Boissat. “Precisamos repensar o que significa produzir frutos do mar no século 21.”
O desafio da governança oceânica
O relatório da FAIRR chega às vésperas da Conferência da ONU sobre os Oceanos, onde líderes globais se reunirão para discutir a sustentabilidade marinha. Um dos principais temas será a lacuna entre as políticas de proteção dos oceanos e a prática real.
Muitas áreas marinhas protegidas ainda permitem pesca industrial e arrasto de fundo, minando os objetivos de conservação. “Mesmo em áreas protegidas, a ausência de restrições efetivas permite que práticas destrutivas continuem”, disse Boissat. “Enquanto a regulamentação não acompanhar a ciência, essas chamadas proteções oferecem apenas uma falsa sensação de segurança — tanto para os ecossistemas quanto para os mercados.”
Ativistas e investidores esperam que a conferência traga uma governança mais forte — e não apenas declarações simbólicas. Sem proteções aplicáveis, os riscos à biodiversidade marinha — e às indústrias que dela dependem — continuarão a crescer.
Dilema da aquicultura
As partes interessadas precisam decidir: continuar com o modelo atual, correndo o risco de colapso da biodiversidade, insegurança alimentar e disrupção das cadeias de suprimentos — ou repensar profundamente como o setor da aquicultura deve operar.
“A indústria fala sobre risco e resiliência há anos”, concluiu Boissat. “Mas se todo o seu modelo de negócios depende de um insumo que está desaparecendo, isso não é resiliência. Isso é negação”, diz.
* Felicia Jackson é colaboradora da Forbes Reino Unido, onde escreve sobre a intersecção entre inovação e desafios globais na economia.
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